"Aquele sonho" — Redação vencedora do 7º Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso Ecofuturo

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Foram um, dois bocejos — e, então, o homem espreguiçou-se e logo seus pés tocaram o velho piso amadeirado de seu quarto. O relógio já alertava: eram cinco horas. O chá de camomila já estava sobre a mesa da cozinha, logo ao lado dos biscoitos caseiros de aveia e mel.
Gomes — assim era o modo como seus companheiros de trabalho o conheciam — tomou o último gole de seu chá, deixou o caneco sobre a pia e respirou fundo. Pegou seu instrumento de trabalho, embaixo da cama, e saiu da velha casa de madeira.
O céu lá fora ainda estava um pouco escuro, e notava-se um suave quebrar das folhas secas no solo da floresta, conforme caminhava — quebrava muitas delas até que encontrasse a matéria-prima perfeita. Por mais que, por vezes, esse processo demorasse, ele sempre a encontrava. E, dessa vez, não foi diferente: bem a avistou. Em pé, abriu um pouco as pernas para garantir equilíbrio, segurou forte o cabo de madeira e atingiu-a. Atingiu-a em cheio — lá estava a árvore, caída. O machado em suas mãos denunciava o ato doloroso, bem como seu ganha-pão. Nesse momento, o dia já começava a contar com a presença notória do Sol, e bastava levantar a cabeça para saber que o caminhão estava chegando, para o armazenamento das árvores — a fumaça liberada pelo escapamento, de tão escura, parecia homogênea.
Gomes sofria de problemas respiratórios diversos e, naquele dia, não tinha nem mesmo apetite suficiente para almoçar. Logo, resolveu deitar-se para descansar; o Sol luzia tão fortemente que o obrigou a cobrir o rosto com seu chapéu. Pensou: "Como seria o Sol personificado?" Porém, já exausto, suas pálpebras começaram a pesar, o que, rapidamente, o fez adormecer — e intensamente sonhar...
No sonho, Gomes se deparou com uma visão privilegiada: bem do alto. Tornou-se onisciente. Olhou ao redor, e percebeu que sua forma física não fora mantida. Apesar dos sentimentos bem humanos, fugazmente pôde compreender: havia se tornado a personificação do Sol — e que triste foi reconhecer o quão negativo isso era! De lá, via mais claramente que os homens quebravam a natureza na frequência em que o faziam com as folhas secas. Surpreendia-se ao ver formações crescentes de ilhas de calor, e metrópoles que cresciam mais a cada dia, sem investimentos ecológicos. Enxergava mais notoriamente que o excesso de poluição causava doenças respiratórias nos humanos demasiadamente cedo, o que ocasionava uma superlotação nos hospitais. Via lenhadores que, como ele, cegados pela preferência do verde da cédula ao verde das árvores, não enxergavam que o cabo do próprio instrumento de trabalho era feito de madeira. E então notou: a vista nem era tão privilegiada assim. Afinal, isso doía. Uma dor humana. Mas uma dor desnecessária. Já se aproximava o plenilúnio quando percebeu que tinha de despedir-se daquela cena que mais se assemelhava a um martírio. Mas ele não podia, sentia, recordar-se por toda a sua vida daquela cena sem nada fazer. Então, logo se lembrou: tratava-se de uma personificação. A ânsia por revolucionar uma situação provém do homem. Entretanto, a natureza depende do nosso cuidado; necessita de nossa vontade de cuidar do que nos é vital. Gomes passou a não compreender como a raça humana é racional mas, por vezes, age de modo imensuravelmente repleto de irracionalidade.
Questionava-se como nunca antes, até que o seu relógio anunciou, despertando-o: a hora era de voltar ao trabalho. Seus olhos abriram lentamente, e percebeu que a luz do Sol prosseguia a irradiar fortemente, penetrando nas passagens mais imperceptíveis de seu chapéu de palha. Viu suas botas sujas de terra, bem como suas mãos ressecadas. Entristeceu-se. "Isso é mesmo necessário?" O rádio estava ligado dentro do velho caminhão, e Gomes resolveu centrar-se na canção que tocava. Renato Russo cantarolava:
"Venha! Meu coração está com pressa. Quando a esperança está dispersa, só a verdade nos liberta. Venha! O amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera: nosso futuro recomeça."
E, então, sorrindo, encorajou-se: assumiu o arrependimento, largando o velho instrumento de trabalho e saindo, cantando junto a canção que tocava, tão alto que sua voz abafava a grave voz no rádio: "Venha, que o que vem é perfeição..."



Sempre querido leitor,

Saiba que devo mil e um agradecimentos a você, em primeiríssima ordem, que acompanha a versão digital de um de meus livros de contos. É na presença de uma imensurável felicidade que crescentemente me rodeia que comunico: através do texto recém-lido, recebi o título de vencedora de um renomado concurso nacional de redação, o 7º Concurso Cultural Ler e Escrever é Preciso, promovido pelo Instituto Ecofuturo, junto a outros nove vencedores da categoria referente ao Ensino Médio!


Não é maravilhoso? Sinto-me a pessoa mais feliz do mundo por tanto, portanto. Foi um grande sonho realizado. Além do troféu, do certificado e da cesta com livros, eis que o maior prêmio de todos será agora citado: a publicação. Esse conto que você acabara de ler será publicado em uma antologia a ser impressa em Dezembro, que será comercializada normalmente. Deixo aqui a crucial tarefa de dar maiores informações a respeito do livro assim que o souber.
Porém, expresso-me sem delongas: foi a melhor experiência de toda a minha vida. Sem reformular a frase, afirmo que, da hospedagem no hotel, até a cerimônia de premiação, foi tudo especialmente preparado com um carinho notório por parte de todos da equipe Ecofuturo. Tive a (deliciosa) oportunidade de conhecer Inácio de Loyola Brandão, com seu jeito tão misterioso que tanto admiro. Papeei com Heloísa Prieto, que se fez tão presente em minha infância com seus livros que mais parecem ser escritos, metaforicamente, em sopas de letrinhas coloridas — e eu, pequena, nem ao menos hesitava em devorá-las! Conheci Marina Silva, e tive a oportunidade de dizer a ela, olhos nos olhos, o quanto sua força de vontade exemplifica; o quanto me motiva. Seu sorriso me fez ter certeza de que disse a coisa certa.
E tudo aquilo junto me fez perceber: quando se quer, se consegue, sim. Quando se sonha, se conquista, sim. Pode até demorar, sim, mas isso não significa que não vai acontecer em determinado tique-taque do relógio pendurado ao lado da janela da cozinha, ou então apoiado sobre a mesa de centro da sala. O que é o tempo para determinar a intensidade do que se deseja, afinal?

Obrigada!
Com muito carinho e eternos agradecimentos,
Carol Benazzato.

P.S.: Professora Letícia, uma vez mais: obrigada. Obrigada, obrigada, obrigada, três, quatro, cinco vezes mais. Evidencio que jamais teria conquistado esse grande prêmio sem o seu apoio, sempre constante. De ti, jamais me esquecerei... Obrigada a você, que tanto me apoia. Obrigada a você, que tanto acredita no meu potencial. Obrigada a você, minha professora...